sábado, 10 de outubro de 2009

Deixem-me cair, por mim



Eu podia passar
pelo meio de uma multidão,
Que Eles nunca veriam
o que realmente sou.

Sou transparente.
Sou opaca.
Sou indesejada.
Sou descartável.
Somos todos.

Posso passar horas rodeada de pessoas que me conhecem desde sempre.
Nenhuma me sabe ler.

Estou furiosa.
Estou zangada de tão furiosa que estou.
Estou  cansada de estar zangada.
Acima de tudo,
estou cansada de estar cansada.

Sinto que me quero deixar cair,
cada vez que tenho uma tontura,
Embora o meu corpo não concorde.
Sinto que quando cair,
Não vou querer que me levantem.

Mas se ninguém me levantar,
não o farei por mim própria.
Quando cair,
espero que me deixem deitada.
       Assim, poderei descansar.

E quem sabe, quando abrir os olhos, já não esteja tão zangada, e apenas dorida,
da queda?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Choro, por mim



Choro lágrimas,
Choro pensamentos,
Choro lembranças e recordações,
Oh! Que recordações…
Boas e más,
Doces e amargas, mas
Choro.
Choro, choro tanto que já não sei porque choro,
Mas continuo a chorar.
Choro até à alma ficar limpa, até à consciência ficar leve.
Mas a alma não fica limpa e a consciência continua pesada, mas mesmo assim
Choro , choro e rebento. E ao rebentar solto um animal,
Um animal selvagem que existe no lado mais obscuro de mim,
O coração.
E entre lágrimas de raiva,
Oh! Que imensa raiva e ódio que eu sinto, eu limpo a minha alma
E sem peso nas minhas costas,
Sigo a minha única e fiel religião:
A minha consciência.

IV, por T. S. Eliot



"The dove descending breaks of air
With flame of incandescendent terror
Of which the tongues declare
The one discharge from sin and error.
The only hope, or else despair
Lies in the choice of pyre or pyre –
To be redeemed from fire by fire.

Who then devised the torment? Love.
Love is the unfamiliar Name
Behind the hands that wove
The intolerable shirt of flame
Which human power cannot remove.
We only live, only suspire
Consumed by either fire or fire."

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sem Nome III, por António Aleixo




“Se pedir, peço cantando,
Sou mais atendido assim;
Porque, se pedir chorando,
Ninguém tem pena de mim.

Meu aspecto te enganou;
O que a gente é não se vê;
Pergunta a outrem quem sou,
Pois o que sou nem eu sei”.

Quem me vê dirá: não presta,
Nem mesmo que lhe fale,
Porque ninguém traz na testa,
O selo de quanto vale”.

Sem Nome II, por António Aleixo



“Peço às altas competências
Perdão, porque mal sei ler,
P’ra aquelas deficiências,
Que os meus versos possam ter.

Quando não tenhas à mão
Outro livro mais distinto,
Lê estes versos que são
Filhos das máguas que sinto.

Julgam-me mui sabedor.
E é tam grande o meu saber
Que desconheço o valor
Das quadras que sei fazer”.

Sem Nome I, Alberto Caeiro, in "Poemoas Inconjuntos"



“[…] Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos,
Nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer outra criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza."

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Velho Testamento, por José Régio



"MUDO, por hoje, o vivo feroz, saciada
A fome vil, chegado o vil quebranto,
Na placidez da noite constelada
Recolho, e aqui me encolho e embrulho a um canto.

Já, longe, um fresco alvor de madrugada
Nos diz que mais um dia aí vem! No entanto,
Por enquanto, feliz sem pensar em nada,
Todo este mundo inerte é esparso encanto”.

Opera Omnia, por Bocage




"Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça tristeza envenenados:

Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados.

Não vos inspire, ó versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz a tirania.

Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco”.

Ternura, por Vinícius de Moraes



"EU TE PEÇO PERDÃO por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma…
É um sossego, uma canção. Um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora”.




Soneto de Despedida, por Vinícius de Moraes

"UMA LUA no céu apareceu
Cheia e branca; foi quando, emocionada
A mulher a meu lado estremeceu
E se entregou sem que eu dissesse nada.

Larguei-as pela jovem madrugada
Ambas cheias e brancas e sem véu
Perdida uma, a outra abandonada
Uma nua na terra, outra no céu.

Mas não partira delas, a mais louca
Apaixonou-me o pensamento; dei-o
Feliz – eu de amor pouco e vida pouca.

Mas que tinha deixado em meu enleio
Um sorriso de carne em sua boca
Uma gota de leite no seu seio”.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sonetoda Hora Final, por Vinícius de Moraes



"SERÁ ASSIM, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria.

Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também com nostalgia
E partiremos, tantos de poesia
Para a porta da treva aberta em frente.

Ao transpor as fronteiras do segredo
Eu, calmo, te direi: - Não tenhas medo
E tu, tranquila, me dirás: - Sê forte.

E como dois antigos namorados
Naturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte”.

Montevideu, Julho, 1960

III, por T. S. Eliot



"Here is a place of disaffection
Time before and time after
In a dim light: neither daylight
Investing form with lucid stilness
Turning shadow into transient beauty
With slow rotation suggesting permanence
Nor darkness to purify the soul
Emptying the sensual with deprivation
Cleansing affection from the temporal.
Neither plenitude nor vacancy. Only a flicker
Over the strained time – ridden faces
Distracted from distraction by distraction
Filled with fancies and empty of meaning
Tumid apathy with no concentration
Men and bits of paper, whirled by the cold wind
That blows before and after time,
Wind in and out of unwholesome lungs
Time before and time after.
Eructation of unhealthy souls
Into the faded air, the torpid
Driven on the wind that sweeps the gloomy hills of London,
Hampstead and Clerkwell, Campden and Putney,
Highgate, Pimrose and Ludgate. Not here
Not here the darkness, in this twittering world.

Descend lower, descend only
Into the world of perpetual solitude,
World not world, but that which is not world,
Internal darkness, deprivation
And destitution of all property,
Desiccation of the world of sense,
Evacuation of the world of fancy,
Inoperancy of the world of spirit;
This is the one way, and the other
Is the same, not in movement
But abstention from movement;
While the world moves
In appetency, on its metalled ways
Of past time and time future."

Sem Nome IV, por Álvaro de Campos





"No fim de tudo dormir,
No fim de quê?
No fim de tudo parecer ser…,
Este pequeno universo provinciano entre astros,
Esta aldeola do espaço,
E não só visível do espaço visível."

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Água, ou outra coisa que tal, por mim


Ás vezes, há certas sujidades
Que nem a água consegue limpar.
Às vezes, por mais horas
que passemos no banhovamos continuar a sentir suores alheios,
odores alheios,
a feder em nós.
Cheiros nauseabundos,
Resultados de escolhas erradas,
Resultados de inseguranças usurpadas
E resultados de firmezas não bem conseguidas.

Às vezes, é difícil limparmo-nos,
quando não são os poros da nossa pele
que emana sujidade,
Mas os nossos erros.

Às vezes os nossos erros têm cheiro.
Cheiro a frustração,
Cheiro a arrogância,
Cheiro à inconstante e detestável adolescência,
Cheiro a negação,
Cheiro a desilusão.
Este é o cheiro mais difícil de tirar da pele e da roupa.
É o cheiro que fica mais entranhado;
É o cheiro que deixa mais nódoas;
E,
É o cheiro que mais desgasta os tecidos,
Lavagem após lavagem,
sem nunca sair,
sem nunca deixar uma réstia do seu traço.


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Guardei as lágrimas no bolso, por mim



Parei de chorar.
Qual a sua utilidade?
Olhos inchados e voz aguda,
Pensamento incoerente e diálogo inconclusivo.
Guardei as lágrimas no bolso.

Parei de enxugar as lágrimas.
Elas já lá não estavam.
Inibidas, [provavelmente]
Por uma confiança fingida.
Guardei as lágrimas no bolso.

Deitei fora os lenços de papel,
Pintei um sorriso de Joker na cara,
Calcei a destreza e a força.
Tirei as lágrimas do bolso,
Amachuquei-as e deitei-as pela janela fora.

Já não vou precisar delas.
Sequei as lágrimas.
E enchi o seu espaço do meu bolso,
Por uma caneta.
A mesma que uso para purgar os males da alma,
as lágrimas do peito.
De forma,
A não ter de guardar as lágrimas no bolso.

Pescador, por mim



Cheirei-lhe o pescoço,
Senti os seus cabelos salgados,
Acariciei a pele morena e gretada pelo Sol.
Reconheci o sorriso do rapaz de 20 anos,
que me convidava para dançar.
Os dentes brancos e malandros não mentiam,
ao contrário das suas palavras:
"'Tás igualzinha ao baile de formatura!"
Nunca deixou de gostar do mar.
Aprendeu a usar o barco;
Aprendeu a usar as redes;
Até aprendeu a tatuar o braço - com a pele gretada pelo Sol - como todos
os outros pescadores faziam.
E eu,
que aprendera a tirar uma licenciatura;
que aprendera a ter o meu apartamento na Baixa Chiado;
que aprendera a ser uma mulher confiante e independente,
Nunca aprendera a desapaixonar-me por ele.
Pela pele que após 30 anos,
o Sol ajudou a bronzear e a enrugar.

Sem Nome V, por mim


Sacudi as folhas do pé,

Limpei os ramos dos braços,

Do tronco, removi as raízes

mortas e secas,

E o corpo mexeu-se.

À medida que caminhava,

o pó e os ninhos antigos

de animais caíam.

Do pó vim,

Mas ao pó ainda não hei-de voltar.

Pé por pé,

passo por passo,

numa caminhada elegante que se assemelha a uma dança,

apercebo-me que estou nua.

Já não há heras,

não há animais,

não há folhas,

e as flores já pereceram e caíram.

Não mais,

criaram raízes.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ainda não chegámos à Madeira, por Ricardo A. Pereira, In "Boca do Inferno"



“O governo regional da Madeira decidiu não comemorar este ano o 25 de Abril, o que me parece extremamente acertado. De facto, não faz muito sentido que a Madeira festeje uma data que ainda não viveu. Quando o 25 de Abril chegar à Madeira, deve ser celebrado. Até lá, concordo com a proibição total das comemorações. Também não se festeja o dia da liberdade em Teerão, que Diabo.
Admito que aguardo com muita ansiedade o 25 de Abril da Madeira. Não sei se o regime madeirense permite que a “Visão” [revista onde se insere este artigo] circule livremente na ilha, mas gostava de explicar aqui, aos nossos irmãos madeirenses, em que consistirá o seu 25 de Abril, caso a história se repita. Embora eu ainda não tenha percebido se é a história que se repete ou se são os historiadores. Adiante.
Se tudo correr como no continente, o primeiro facto histórico relevante é este: Alberto João Jardim cairá de uma cadeira e será substituído por um dos seus delfins, provavelmente por Jaime Ramos. Depois, numa madrugada, um grupo de militares fará uma revolução e acabará por instaurar uma democracia. Vão ver que vai ser giro. Nós, aqui no continente gostámos.
Há ainda outro aspecto a considerar. Se nós queríamos que o 25 de Abril fosse celebrado pelo governo regional da Madeira, devíamos ter pensado nisso mais cedo. Todos sabemos que o Alberto João Jardim só festejaria o 25 de Abril se os militares tivessem invadido o Largo do Carmo, vestidos de Shaka Zulu. Porque é que o Salgueiro Maia veio de Santarém numa chaimite, vestido de camuflado, quando poderia ter chegado a Lisboa em cima de um bonito carro alegórico, envergando um vestido de baiana? Foi má vontade do capitão de Abril, e uma acintosa tentativa de boicotar os futuros festejos da data da Madeira.
É preciso lembrar que o governo regional da Madeira não está sozinho. Há muitas outras pessoas que se sentem incomodadas com os festejos do 25 de Abril – o que só fica bem ao 25 de Abril. Um dos principais argumentos contra a celebração da data é o seguinte: a Revolução já aconteceu há muito tempo, não faz sentido continuar a comemorá-la. É um raciocínio interessante, que eu gostaria de ver aplicado a outras festividades, designadamente o Natal. Parece que o acontecimento que se festeja no dia 25 de Dezembro também já teve lugar há algum tempo. Talvez não faça sentido continuar a celebrá-lo.
Pela minha parte, confesso que continuarei a celebrar o dia 25 de Abril de 1974. Nasci 3 dias depois e agradeço muito a quem fez a Revolução o facto de ter tornado possível que eu não tivesse de viver nem um minuto sob o fascismo. A Revolução, para mim, é como uma cunha: se não fosse o 25 de Abril, eu não teria emprego.”






Sem Nome, por Magui Alpalhão, In "Momentos de Inspiração"



“Eu sei o que não sei mas quero saber.
Saber o que sei, ainda não sei.
O que sei é que quero saber o que ainda não sei.

E saber o que sei
Depois de saber o que sei e o que não sei.
Então já sei.”




Hoje! Já Hoje! , por mim



Não há fogos postos.
Não há fuga nos impostos.
Não há animais em vias de extinção e a crise foi resolvida.
Os vulcões não entram em erupção, no entanto, deixam as terras férteis.
Os pandas já acasalam em cativeiro.
Não há filas de espera nos correios.
As respostas dos exames são todas subjectivas.
A comunidade cigana é agora integrada nas restantes.
O papa apoia o preservativo.
O vírus do HIV já quase não existe no continente africano.
Encontraram a cura para o cancro.
Os alunos não são barulhentos e não há professores injustos.
A Al-Qaeda foi desmantelada por iniciativa própria e juntou-se ao Green Peace.
A China libertou o Tibete, permitindo-lhes continuar a conviver pacificamente.
A família Bush gerou um movimento de controlo e destruição de armas.
Nigéria, Quénia, Etiópia, Angola e Moçambique exploram e exportam as suas matérias-primas, mantendo uma boa qualidade de vida para a população.
O capitalismo extremo já não existe.
O amor existe e é aceite em todas as idades, sexos e cores.
As pessoas deixaram de pensar e calcular, para sentir e viver.
Largámos os jogos electrónicos e abraçámos os livros.
Acordei.
…Podia jurar que tinha acontecido.

Mas o mundo não muda sozinho.
Eu? Eu estou a ajudar a mudar o mundo.
E tu, que estás a fazer?




Melancolia, por José Régio



"BASTA, meu coração! Nada de esperanças!
Desesperança extrema, altiva e crua.
Silêncio sobre uma grande álea nua
Com troncos sem folhagens, como lanças.

Nenhum lenço a acenar frágeis lembranças
Espaços baços, amplos, e sem lua.
Um vento igual, rasteiro e que insinua
Resignações que fingem bonanças”.




Sufismo: O camino del corazón

"Todo el mundo es un mrcado para el amor,
aunque sea en balde, el amor está lejos.
La sabiduría eterna hizo que todo fuera amor.
Todo depende del amor, con amor todo cambia.
La tierra, los cielos, el sol, la luna, las estrellas
en el centro de su órbita está el amor.
Por amor todos quedamos perplejos, estupefactos,
intoxicados por el vino del amor.

A todos, el amor pide un silencio místico.
¿Qué buscan de todo corazón? Este amor.
El amor es el sujeto de los pensamientos más íntimos,
en el amor dejan de existir el tú y el yo
porque el yo muere en el amado.
Ahora quitaré la venda del amor
y en templo de mi alma íntima
contemplaré, amigo, el amor incomparable.
Él que conocería el secreto de ambos mundos
encontrará que el secreto de ambos es el amor”.

Farid Ud Din Attar
In “Sabiduría Oriental”

Para Ana Roque, com muito carinho, que me ofereceu este livro, pois sem ele, jamais veria a beleza do amor sob este prisma.

Poema de Natal, por Vinícius de Moraes



“PARA isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Parar enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje à noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente”.

Sentimento Ridículo, por mim




O sopro do bater das asas
de um pássaro.
Um chilrear matinal,
Um rouxinol mudo,
Pela beleza do nascer-do-sol,
por saber,Que nunca fará parte dele.






Citação do Alquimista



“Everytime a child is born,
It brings with it the hope
That God is not yet
Disappointed with Men”.

Rabindranah Tagore






Sonho de uma Noite de Perfeição, por mim




Tive uma visão utópica.
Nós. Nós, a gente do povo. A alimentarmo-nos todos juntos e bem. Pessoas dedicadas a fazer uma boa alimentação. Pessoas contentes e a viver de forma saudável. Todos têm emprego. Não há ninguém sem trabalho. O dentista é um bom dentista, e por isso ganha bem. E como é bom no que faz, contribui para a comunidade. A senhora da mercearia recebe o dinheiro dos cozinheiros que cozinham para a comunidade.
Todo o dinheiro é trocado entre a comunidade.
Todos os cargos são merecidos e bem efectuados.
Todo o dinheiro é fornecido para a comunidade, de acordo com os seus trabalhos e de acordo, com as suas necessidades.
O poder que governa esta comuna não pode ser questionado.






O Sonho da Guerreira, por mim


Vivemos num continente africano, arenoso e quente. Tenho a pele morena e com cicatrizes. Sou pequena e visto um traje clássico. Sou a guardiã da língua sagrada e a minha função é de proteger o “falante”. Fiz um voto de obediência para com ele. Tenho três adagas À cintura e um grande machado preso às costas. Tenho de proteger o “falante”. Falo a língua sagrada só com ele. Não tenho vontade própria. Não posso ter.

Sou uma guerreira e mantenho-me pura nas escolhas, nos ideias e nas artes marciais, e no meu corpo. Homem algum poderá tocar-me sob pena de morte. Tenho marcas no meu corpo. Tenho marcas, cicatrizes de outras batalhas ou punições de desacatos. Enquanto o chicote dilacera a carne, não podemos gritar. obediência. Sempre.


Message in a Tomb, por Charles Dickens



“STRANGER!
Respect the tomb of John Chivery, Junior, who diedat an advanced age, not necessary to mention. He encountered his rival in a distressed state, and felt inclined to have a round with him; but, for the sake of the loved one, conquered those feelings of bitterness, and became MAGNANIMOUS.”

Charles Dickens
In Anthology “A Lover Composes Some Epitaphs”




António Aleixo


«Quem nada tem,
nada come;
e ao pé de quem tem comer,
se alguém disser que tem fome,
comete um crime, sem querer».
Primavera de 1943

“O poeta António Aleixo, cauteleiro e guardador de rebanhos, cantor popular de feira em feira, pelas redondezas de Loulé, é um caso singular, bem digno de atenção de quantos se interessam pela poesia.
Embora não totalmente analfabeto – sabe ler e tem lido meia dúzia de bons livros – não capaz, porém de escrever com correcção e a sua preparação intelectual não lhe dá certamente qualificação para poder ser considerado um poeta culto.
Todavia, há nos versos que constituem este livro uma correcção de linguagem e, sobretudo, uma expressão concisa e original de uma amarga filosofia, aprendida na escola impiedosa da vida, que não não deixam de impressionar […]”

Joaquim Magalhães