sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sonetoda Hora Final, por Vinícius de Moraes



"SERÁ ASSIM, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria.

Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também com nostalgia
E partiremos, tantos de poesia
Para a porta da treva aberta em frente.

Ao transpor as fronteiras do segredo
Eu, calmo, te direi: - Não tenhas medo
E tu, tranquila, me dirás: - Sê forte.

E como dois antigos namorados
Naturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte”.

Montevideu, Julho, 1960

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