sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ainda não chegámos à Madeira, por Ricardo A. Pereira, In "Boca do Inferno"



“O governo regional da Madeira decidiu não comemorar este ano o 25 de Abril, o que me parece extremamente acertado. De facto, não faz muito sentido que a Madeira festeje uma data que ainda não viveu. Quando o 25 de Abril chegar à Madeira, deve ser celebrado. Até lá, concordo com a proibição total das comemorações. Também não se festeja o dia da liberdade em Teerão, que Diabo.
Admito que aguardo com muita ansiedade o 25 de Abril da Madeira. Não sei se o regime madeirense permite que a “Visão” [revista onde se insere este artigo] circule livremente na ilha, mas gostava de explicar aqui, aos nossos irmãos madeirenses, em que consistirá o seu 25 de Abril, caso a história se repita. Embora eu ainda não tenha percebido se é a história que se repete ou se são os historiadores. Adiante.
Se tudo correr como no continente, o primeiro facto histórico relevante é este: Alberto João Jardim cairá de uma cadeira e será substituído por um dos seus delfins, provavelmente por Jaime Ramos. Depois, numa madrugada, um grupo de militares fará uma revolução e acabará por instaurar uma democracia. Vão ver que vai ser giro. Nós, aqui no continente gostámos.
Há ainda outro aspecto a considerar. Se nós queríamos que o 25 de Abril fosse celebrado pelo governo regional da Madeira, devíamos ter pensado nisso mais cedo. Todos sabemos que o Alberto João Jardim só festejaria o 25 de Abril se os militares tivessem invadido o Largo do Carmo, vestidos de Shaka Zulu. Porque é que o Salgueiro Maia veio de Santarém numa chaimite, vestido de camuflado, quando poderia ter chegado a Lisboa em cima de um bonito carro alegórico, envergando um vestido de baiana? Foi má vontade do capitão de Abril, e uma acintosa tentativa de boicotar os futuros festejos da data da Madeira.
É preciso lembrar que o governo regional da Madeira não está sozinho. Há muitas outras pessoas que se sentem incomodadas com os festejos do 25 de Abril – o que só fica bem ao 25 de Abril. Um dos principais argumentos contra a celebração da data é o seguinte: a Revolução já aconteceu há muito tempo, não faz sentido continuar a comemorá-la. É um raciocínio interessante, que eu gostaria de ver aplicado a outras festividades, designadamente o Natal. Parece que o acontecimento que se festeja no dia 25 de Dezembro também já teve lugar há algum tempo. Talvez não faça sentido continuar a celebrá-lo.
Pela minha parte, confesso que continuarei a celebrar o dia 25 de Abril de 1974. Nasci 3 dias depois e agradeço muito a quem fez a Revolução o facto de ter tornado possível que eu não tivesse de viver nem um minuto sob o fascismo. A Revolução, para mim, é como uma cunha: se não fosse o 25 de Abril, eu não teria emprego.”






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