quarta-feira, 27 de junho de 2007

As Touradas: uma tradição secular ou uma chacina pública divertida?


é uma sangueira por todo o terreiro, as damas riem, batem palmas e os touros morrem uns após outros […] as fontes abertas nos flancos dos touros, manando a morte viva que faz andar a cabeça à roda, mas a imagem que se fixa e arrefece os olhos, é a cabeça descaída de um touro, a boca aberta, a língua grossa pendendo, que já não ceifará a erva dos campos, ou só os pastos de fumo do outro mundo dos touros, como haveremos de saber se Inferno ou Paraíso(?). Paraíso será, se justiça houver, nem pode haver Inferno depois do que sofrem estes.”
In Memorial do Convento de José Saramago


A tourada é uma tradição ibérica e francesa que consiste na “sobrevivência” de um indivíduo munido de lantejoulas, collants e algo parecido com arpões numa arena, eventualmente com cavalo, com um touro, que todos negam ter sido mutilado, ferido e alegam estar em perfeitas condições, e que perdeu na arena com outro ser com um quarto do seu peso, da sua velocidade e da sua força, usando apenas a sua vocação para tourear। Esta tradição já existia na época em que as pessoas se banhavam apenas nos funerais, baptizados e aniversários, cobrindo-se posteriormente com banha de porco (não fossem apanhar alguma bactéria!), no entanto, com a evolução do Homem, verificou-se que tal constituía um atentado à saúde pública e ao olfacto dos que os rodeavam e o ser humano agora, toma em média banho em dias alternados. Também nesta época haviam autos-de-fé, que eram autênticas festanças em que haviam alguns sujeitos que blasfemavam contra a Igreja, faziam bruxaria ou tinham até mesmo ataques epilépticos (que na altura eram presumíveis possessões demoníacas) e iam parar à fogueira. Mas o Homem também evoluiu, e viu-se que estes “autos-de-fé” eram um atentado aos Direitos Universais do Homem e à Liberdade de Expressão (porque não uma macumba de vez em quando? Todos temos direito). Com as touradas, esta pseudo-civilização toma um banho e arranja-se para ir ver uma chacinar um animal em desvantagem, mas com toda a pompa e circunstância. Até que ponto certas tradições bárbaras como a indicada retardam o progresso civilizacional? E com que desculpa permitimos esta facada nos Direitos dos Animais? Com a desculpa que os antigos as faziam. Mas os antigos faziam muitas outras coisas, algumas até já supra mencionadas, mas não estavam certas, pois não?




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