sexta-feira, 9 de abril de 2010

"A morte a monte, de Catarina Eufémia", por José Miguel Tarquini

Quotes from the book:

"Catarina será vingada! Julgamento popular do carrasco Fernando Nunes."
"Esta mulher que viu Catarina morrer... é um bocado do Alentejo à espera de justiça."
"Quem viu morrer Catarina, não perdoa a quem a matou!" - grito de Baleizão.
"De pé os pobres do mundo... de pé os escravos sem pão." , por Carmona (marido de Catarina Eufémia).

Songs from the book:
«Ó rico, tu bem podias
Repartir com quem não tem.
Ó rico, tu ficas rico,
e o pobre que passe bem...»

«Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer.
[...]
Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
ó Alentejo esquecido,
Um dia hás-de cantar
                     Zeca Afonso

Excertos do livro:


«O oficial Carrajola andava preocupado (...) ele não percebia patavina do assunto. Sabia, claro está, porque lhe tinham ensinado nos seus cursos,, o que representava cada ideologia. Sabia, por exemplo, que os comunistas eram uns porcos asquerosos que queriam enforcar e matar toda a gente»
[...]
«As cascas de laranja eram comidas cada vez com mais avidez. Casca de laranja ao almoço, e caroços de laranja à ceia. Água com açúcar ou vinagrada pobre. Era tudo isso que se comia no campo, no meio da terra, debaixo do sol.
Carne de porco à alentejana, leitão assado, escalopes de vitela, mariscos era o que se comia lá em cima, no monte, onde vivia Fernando Nunes. Com vinho verde e soda, ou água mineral. Enquanto ele comia, lá em cima, no seu confortável salão, cá em baixo, as camponesas abrasavam miseravelmente. A aldeia estava cansada
[...]
«E queríamos sobretudo justiça. Sabe que a gente nem tinha o conceito de justiça? Sabe que não sabíamos bem o que queria dizer? E sabe onde a encontrámos? Encontrámo-lo na injustiça. Quando nos demos conta, todos por igual, do que era a injustiça, compreendemos a justiça
[...]
«Pensou numa frase de Cristo que tinha ouvido ao padre Pinto : bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles será o reino dos céus. Pensou no céu. Ainda viva, viu já embaciadamente, as botas pretas de Carrajola. E pensou no inferno. Sentiu que o filho chorava. É o José Adolfo?, o Gaspar? ou a Maria?, perguntou a si própria. É o José Adolfo, decidiu. Coitado!... Em seguida, morreu


NOTA INFORMATIVA:
«[...] No entanto, os responsáveis do crime, por seu lado, sofreram as consequências, Fernando Nunes, poucos dias depois, teve uma tentativa frustrada de suicóidio. O tenente Carrajola, que sido transferido para outro posto, morreu em pouco tempo. José Vedor, que ainda vive na aldeia, teve que aguentar o desprezo de todos os que o rodeavam.
Foi uma justiça que parecia imposta 'de cima' que castigou os culpados. No entanto, o cadáver de Catarina continuava irresgatável, nas mãos dos que Pedro apontava como 'aves de rapina' e que Catarina identificava como aquele mundo que ficava longe, muito longe da aldeia...»


Comentário Pessoal:
Catarina sentia raiva dos comunistas, embora sem saber o que eram. Mas enraivecia-lhe o povo de Baleizão pagar as contas deles. No fundo, tal como ela disse tantas vezes, queria paz e comida para os seus 3 filhos. E queria justiça. Ninguém se apercebe do que é a justiça até sofrer a injustiça.
Teve 26 anos. 26 anos de amor por Carmona, de amor pelos filhos, de amor pelos camponeses. Mas também teve 26 anos de penar, de fome, de sofrimento, do 'mau cheiro' que assombrava a sua aldeia.
Aldeia, que esta sempre quis ajudar. 'Ela provocou', alguns dizem. Porquê? Por preferir morrer de um tiro, do que pela mão de um cobarde? Pretendia ela, deixar os seus três filhos órfãos de mãe? Pretendia ela, quie o seu pequeno benjamim - José Adolfo - assistisse ao seu homicídio inútil [se é que algum é últil].
Mártir. Mulher. Mãe. Líder. Camponesa. Corajosa. Muitos nomes pode ter esta mulher.
Eu dou-lhe: Esperança.

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